Em meio às mais de mil mortes diárias por conta da pandemia do novo coronavírus no Brasil, a discussão em torno da volta às aulas vem sendo motivo de polêmica nas rodas de discussão a cerca do assunto. Por um lado, têm aqueles que defendem o retorno imediato às aulas presenciais amparados no argumento de não aumentar ainda mais o prejuízo causado à vida acadêmica aos jovens e crianças pelo ano de 2020 que fora praticamente perdido, tem também. De outro ponto de vista, têm as pessoas o retorno precipitado às atividades presenciais poderia pôr em risco à vida das crianças e professores, uma vez que a vacina ainda não está disponível para ambos os públicos.
Uma determinação judicial, feita pela juíza Juliana de Castro Madeira Campos, da 6ª Vara da Fazenda Pública de Salvador, estabeleceu prazo de até o dia 1º março para a retomada das atividades escolares presenciais na Bahia. Segundo a magistrada, a suspensão das aulas viola o princípio constitucional da razoabilidade. Entretanto, no último sábado (6), o Governo do Estado prorrogou até o dia 14 de fevereiro o decreto que suspende shows e aulas nas unidades de ensino das redes pública e privada em toda a Bahia. O documento proíbe a realização de atividades com público superior a 200 pessoas.
Na segunda-feira (8), em uma reunião com as presenças do governador Rui Costa (PT), prefeitos, gestores e técnicos das secretarias estaduais da Educação (SEC) e da Saúde (Sesab), além de representantes da União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), foi debatida a criação criação de um protocolo conjunto de volta às aulas.
“Ainda estamos vivendo um crescimento que começou no mês de novembro, e o retorno das atividades escolares deve levar em conta as taxas de ocupação de leitos e de mortalidade pela covid-19. A Secretaria de Educação do Estado, em conjunto com a UPB e as secretarias municipais de educação, irá criar um protocolo único de educação e saúde para o retorno às aulas. Solicitei um levantamento dos profissionais da educação acima de 55 anos em todo o Estado, que fazem parte do grupo de maior vulnerabilidade, para que, possivelmente, possam ser incluídos num próximo lote de uma das vacinas que estão sendo aplicadas na Bahia”, explicou o governador.
Ainda Segundo o gestor estadual, quando as aulas forem retomadas, as turmas serão divididas em 50%: “O retorno se dará, inicialmente, em um modelo híbrido e com aulas em dias alternados. No dia em que o jovem ou a criança não estiver na escola, ele teria material pedagógico digital e impresso para utilizar em casa”.
Por sua vez, o prefeito de Salvador Bruno Reis (DEM) afirmou estar apenas esperando aval do Ministério Público e da Defensoria Pública em relação aos protocolos sanitários, feitos em conjunto com o governo do estado, para a retomada das aulas presenciais nas unidades de ensino da capital. Reis tem defendido que as aulas presenciais na rede municipal de ensino sejam retomadas até março.
“Pode ser 1 de março, 8 de março ou pode ser 15 de março. Mas acho importante a gente estabelecer uma data em março para que a gente possa ir afunilando o processo de preparação e se organizando para a retomada. Entendemos que não podemos sepultar uma geração, não há como as crianças ficarem dois anos sem vir a sala de aula e sem estudar, por isso que defendemos a retomada da educação”, explicou o prefeito.
Professores – Para a diretora de uma unidade de ensino da rede municipal, as aulas presenciais somente deverão acontecer depois que todos os profissionais da educação, professores, funcionários, estejam devidamente vacinados.
“Isso porque com o retorno das aulas presenciais, o risco é grande de contaminação, para os profissionais da educação, bem como, para as próprias crianças, que muitas vezes tem idosos em casa. Queremos voltar com as nossas atividades presenciais o mais rápido possível, porém, com segurança e tranquilidade. Criança é movimento, é carinho, é contato, é interação, retornar as aulas e não puder abraçar os nossos alunos é podar a espontaneidade dos mesmos. Logo, preservar vidas, ter cuidado com o outro, cuidado com os nossos alunos e familiares é a nossa prioridade. Esperamos que sejamos vacinados o mais rápido possível para que possamos retomar as nossas atividades presenciais Nesse período de pandemia mantivemos o vínculo com os nossos alunos através de atividades impressas, elaboradas pelos professores”, frisou a docente que preferiu manter sua identidade em sigilo.
Questionada sobre o atendimento prestado pela gestão municipal durante a pandemia, a gestora explica: “A SMED, nesse sentido, deu o suporte necessário para viabilizar a impressão destas atividades, porém, deixou a desejar no sentido de disponibilizar recursos tecnológicos para interagirmos, com os alunos e familiares, nesse período”.
Professor de Educação Física na rede estadual, Marcos Gentil se posiciona contrariamente ao retorno das atividades presenciais sem que professores e alunos sejam antes vacinados.
“Sou contra a volta às aulas antes da vacinação. Tenho receio, temo pelos meus filhos. A escola pública tem feridas expostas, que impedem a volta às aulas em meio uma pandemia, os banheiros e bebedouros de muitas escolas estão em péssimas condições. Isso acontece desde a minha época de estudante. Sem falar que os mais rígidos dos protocolos não garantem a não contaminação. Quem defende a volta às aulas, deveria passar uma semana numa escola pública. Muita gente fala de educação sem ter vivência em escola pública”, conta o docente que é pai de três filhos.
Para Marcos, o fato do governo estadual não “fazer aulas online e remota de qualquer jeito” é um ponto positivo: “Houve reuniões, alguns professores enviaram atividades, tiveram muitas lives e debates polêmicos em relação à adoção ou não de atividades remotas e aulas online. Alguns acreditaram que tais medidas aumentaria o abismo social, pois para que as aulas aconteçam é indispensável uma logística com provedores de internet e computadores. Infelizmente, a maioria dos alunos não dispõem desses equipamentos, os quais tiveram seus preços bastantes elevados nos últimos meses. Outros professores acreditaram que os alunos sem as aulas perderiam o vínculo com a escola, provocando evasão escolar. Então, seguimos confinados na esperança da vacinação a que os números de morte não aumentem”.
Pais – Pai de uma criança de três anos, o advogado Jackson Britto relata que tão logo a pandemia do novo coronavírus começou a avançar cancelou a matrícula do filho, que estudava em uma unidade da rede privada de ensino:
“Em março começou a pandemia e começaram a mandar as atividades para casa. Atividades de desenvolvimento da coordenação motora: pinturas, tracinhos, negócio de massinha. A pandemia se estendeu, a coisa começou a apertar e aí resolvi tirar dele colégio. Não tem lógica ficar pagando escola se o menino não está indo. Esse ano ainda não matriculei, pois não sei ainda como vai ficar a situação da pandemia”.
O advogado se diz partidário do retorno às aulas presenciais na rede particular, uma vez que as unidades públicas, segundo ele, não oferecem salubridade para alunos e professores.

“Já foi comprovado que as crianças e pessoas mais jovens, apesar de transmitirem o vírus, são poucas que acabam manifestando a doença. Mas, claro que pé preciso tomar algumas precauções…. Na escola pública mesmo não tem condições nenhuma. Na verdade, já não existe condições de se estudar nesses locais nem em situações normais… Já nas escolas particulares as aulas já deveriam ter sido retomadas há muito tempo, pois nesses locais tem estruturas dignas do ponto de vista sanitário”, explicou Jackson.
“Os governos estadual e municipal estão de mãos atadas porque os professores são estatutários, a maioria são idosos, já tem a sua estabilidade e não vão perder seu trabalho. As escolas públicas não estão preparadas para a nenhum tipo de pandemia. Não existe higiene. Na verdade, o poder público não está nem aí para a educação”, concluiu o advogado.
Opinião diferente tem o funcionário público e pais de três filhos, Miguel Sampaio: “Sou contra, claro. Não por uma questão particular. Hoje em dia há um estimulo a cada um pensar somente em si, à sua situação e seu “histórico de atleta” e acaba esquecendo que estamos em sociedade, onde cada ato repercute nos outros também. Tem professores que tem comorbidades, temos crianças que moram com os avós e pessoas idosas… Então, se por um acaso a aula se tornar o motivo da morte de uma pessoa já não valeu a pena a volta às aulas, principalmente agora que já temos um horizonte. Logo no início as dúvidas eram maiores e não sabíamos como enfrentar a pandemia. Agora, temos um caminho a trilhar que é a vacinação”, explica Miguel.
Miguel afirma reconhecer os prejuízos causados pela pandemia na esfera educacional, mas rechaça alguns argumentos utilizados por aqueles que cobram o retorno imediato às atividades presenciais.

“De fato é um prejuízo ficar sem aula presencial. As crianças não interagem, as crianças não se encontram, a rotina da família se torna complicada com a presença das crianças em casa… Têm aqueles que enxergam nas praias cheias e nas constantes cenas de aglomerações que temos visto por aí um argumento para o retorno das atividades presenciais nas escolas. Só que tem um detalhe: aglomeração vai quem quer e no caso das voltas às aulas, muitas pessoas vão acabar expostas, sobretudo os funcionários dessas instituições… Todo um sistema será exposto de forma oficial. A aglomeração é voluntária e formada por pessoas irresponsáveis. O pior é você estar viabilizando uma aglomeração com as bençãos e o aval do governo”, emendou.