“Então é Natal, o que a gente fez? O ano termina, e começa outra vez…”, diz a profética música imortalizada na voz da cantora Simone que prenuncia as festas de final de ano, , uma época tradicionalmente de bonança, presentes e muita fartura. É nesse período que costumamos, inebriados pelo espirito de confraternização, nos exceder nos gastos…Entretanto, em 2020, por conta dos efeitos da pandemia do novo Coronavírus, a coisa tende a ser diferente, ou ao menos precisa. É o que alerta o economista e Consultor Financeiro, Gildasio Mota.
Para Gildásio, em meio à crise, a dica principal é se livrar das dívidas para evitar gastos com juros extremamente altos. “Procure identificar a dívida que tem juros mais altos para começar a eliminar nesta ordem. Aproveite o período de renegociação que os credores oferecem para conseguir um bom desconto. Geralmente as dívidas mais caras são Cartão de Crédito, Cheque especial e Empréstimos. Procure eliminar nesta sequência”, explica.
“Por outro lado, reveja seu comportamento de gastos para evitar consumir mais do que ganha. Sei que em momentos de crise as dificuldades impõem a necessidade de um gasto além do possível. Mas para prevenir esse problema o consumidor precisa estudar sobre Educação Financeira, Rever hábitos para conseguir ter uma Reserva de Segurança construída ao longo do tempo. Ela é a proteção para estes momentos difíceis”, completa Gildásio que acumula experiencia de mais de 35 anos de atuação em instituições financeiras e seguradoras.
Perguntado pela reportagem como o consumidor deve proceder no sentido de evitar gastos excessivos nas compras de natal e réveillon, o economista responde:
“As tentações neste período são muitas. Somos seduzidos o tempo toda a gastar e, se não tivermos disciplina, estouraremos nosso orçamento, começaremos a pagar juros de cartão de crédito e cheque especial. Para evitar este ciclo, é importante que tenhamos consciência do nosso nível de renda e quais são nossos objetivos de vida. Que seja adquirir um carro, uma casa, uma viagem, pagar uma faculdade, etc. Quando você tem estes objetivos planejados e quantificados (quanto preciso para realizar cada um) e aplicar a disciplina no dia a dia, dificilmente faremos gastos em excesso. Quando uma tentação o seduzir, você pensará duas vezes antes de gastar pois, sabe que prejudicará o atingimento de suas metas. Quem tem um Planejamento Financeiro sabe que precisa “seguir as pegadas no chão” para chegar no objetivo. Desvios podem postergar seus sonhos e criar dificuldades”.
Para aqueles que pretendem usar e abusar do cartão de crédito nas compras de final de ano, o especialista alerta: “O cartão de crédito é um importante meio de pagamento, mas precisa ser usado com parcimônia. Deve ser evitado o parcelamento com cobrança de juros pois dificultará bastante a sua vida financeira e sua tranquilidade. Neste cenário é praticamente impossível não recorrer a empréstimos e refinanciamento de dívidas, é uma questão de sobrevivência”.
De acordo com o economista, segundo dados da AMBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais ) 62% da população brasileira não economizou no ano passado e portanto, não tinham Reserva de Segurança para enfrentar momentos como esta crise.
“Geralmente o que dificulta essa prática é o comportamento das pessoas: falta disciplina; quer o prazer imediato, não mede consequências; o comportamento está voltado para consumir e tem dificuldade de abandonar velhos hábitos de consumo; mantém padrão de vida no limite da receita ou além dela; poupar significa se privar de algo”, salienta
A discussão sobre a questão da Educação Financeira é pontuada por Gildásio como fundamental para mudança no comportamento do consumidor. O consultor financeiro comemora a importância da inclusão da temática na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) a partir deste ano, além de campanhas realizadas por órgãos governamentais e entidades de classe no sentido de disseminar o assunto:
“Esse documento estabelece as referências para os currículos escolares do Brasil inteiro. As crianças aprenderão sobre as taxas de juros, inflação, aplicação e impostos e o uso consciente de recursos naturais”.
Por fim, especialista dá dicas de como o trabalhador deve se preparar para os gastos rotineiros do início do ano (IPTU, IPVA, licenciamento, material escolar, matrículas):
“Essas despesas que são previsíveis se resolve com controle e planejamento antecipado dos gastos. Logo no início do ano devemos estimar os gastos futuro (IPVA, Matrícula, IPTU, ….) e começar a provisionar a reserva, mês a mês, para saldar estes compromissos. Agindo desta forma, você passa o ano disciplinado, evitando gastos desnecessários e em compensação, ficará tranquilo na hora de pagar as contas. O princípio saldável é, “poupe antes para gastar depois””.
“A crise trouxe muitos desafios para as famílias. Redução da renda familiar, bloqueio de atividades impedindo funcionamento da maioria das empresas, desemprego além do risco à saúde. Nestes momentos é que percebemos a importância da Reserva de Segurança para atravessar períodos turbulentos”, conclui Gildásio.
13º salário – Como e onde o trabalhador deve investir o décimo terceiro?
Gildásio responde:
“Esta pergunta é a oportunidade de esclarecer que recomendar um investimento não é tão simples quanto parece. Se alguém te responder esta pergunta rapidamente, fique desconfiado. Fazendo uma parábola para facilitar entendimento, imagine se eu chegasse numa farmácia e pedisse o “melhor remédio”. Seria natural me perguntarem o que eu estou sentindo: Gripe, febre,….. seria irresponsável indicar algo sem entender a necessidade. Para responder é preciso entender o contexto da vida financeira da pessoa. Assim sendo elenco, por ordem de prioridade, o que o trabalhador poderia fazer, a depender de sua situação:
1 – Se tem dívidas com juros, quitá-las
A dívida é cara e tira eficiência do seu planejamento de futuro. De que adianta aplicar dinheiro ganhando de 2 a 4% ao ano e por outro lado pagar juros superiores a 200% ao ano (Cartão Crédito) ou 150% (Cheque especial). Se livre destas dívidas para ter tranquilidade e começar a poupar para sua Reserva de Segurança e nunca mais entrar em pagamento de juros.
2 – se não tem dívidas, reserve para pagar Despesas de Final/Início de ano
Utilizar o 13º. para pagar despesas de final de ano (Material escolar, IPVA, IPTU, ….) e assim evitar entrar no Cheque Especial, por exemplo.
3 – Se não tem dificuldade com os dois primeiros itens, aproveite para Programar um passeio/ Viagem
Para reenergizar sua motivação para o próximo ano de trabalho, é muito importante durante a vida laboral aproveitar o dinheiro para descontrair, fazer o que gosta. É uma recompensa pelo ano duro de trabalho. Você merece.
Outra opção é investir em seu conhecimento com cursos ou especializações e assim possibilitar crescimento na sua carreira e melhoria de renda.
4 – Investir no seu futuro ou tranquilidade financeira
Se você está com suas contas em dia e o 13º. não está comprometido com elas, deveremos aproveitar e aplicar este dinheiro na sua tranquilidade financeira. No longo prazo esse capital pode gerar rendimentos e funcionar como um segundo salário. Quando isso se materializar, você conquistou a Independência Financeira.
Este deveria ser a Primeira prioridade. Costumamos poupar o que sobra do salário, quando sobra. O mais saldável seria criar o hábito de poupar todo mês um percentual do que você ganha (10%, 20% ou 30%). Mais importante de que o percentual é o HÁBITO que você cria.
Procure se disciplinar para viver com menos do que ganha. Assim você estará sendo próspero pois o Juros sobre Juros da sua aplicação criará riqueza.
Consumidor – O funcionário público e administrador de empresas, Djair Nepomuceno conta que a pandemia modificou toda a sua vida financeira. A gente estava acostumado a viver com “x” e tivemos que passar a viver com “y”, isso devido às medidas do Governo Federal de redução da jornada de trabalho, que consequentemente reduz o valor do salário, e até a suspensão do contrato. A partir disso tivemos que rever o que é mesmo importante. Tive que me reorganizar e focar nas prioridades. Deixamos as coisas supérfluas de lado para puder guardar algum dinheiro para quando a situação piorar a gente minimizar os riscos.

Questionado sobre os seus planos de gasto para os festejos de final de ano, o administrador de empresas se mostra reticente em gastar e justifica que “o momento não é de se comemorar nada”.
“Não pretendo gastar muito não. Vou gastar somente o necessário: a ceia de natal e um presente aqui ou ali. Esse ano não pode nem dar abração, quiçá gastar… (risos) Meu objetivo é me organizar financeiramente e esperar o que vai acontecer a partir de janeiro”.
“Vou deixar meu décimo terceiro no banco para me precaver com os gastos escolares, plano de saúde, IPTU e IPVA. Meu decimo será guardado para isso. Não quero começar 2021 com dívidas até porque o momento É poupar. A gente tem a mania de quando tem um dinheiro extra e sobrando, parece que o dinheiro está pegando fogo na mão da gente para comprar tudo aquilo que não tem. Deixa o dinheiro descansando um bocadinho…. Eu penso dessa forma”, completa Djair.
A psicóloga Alice Silvério, assim como Djair, foi atingida diretamente pela pandemia. Alice teve alterada a formalidade do seu vinculo de trabalho.
“Tive que antecipar o planejamento de atuar somente em atividade autônoma. Desta forma financeiramente não tive maiores impactos quantitativos, mas sim na segurança do recebimento. Recebo de acordo com as datas viáveis aos clientes. Também não tenho benefícios como alimentação, plano de saúde e etc..”, explica a profissional liberal.
Ainda de acordo com Alice o fato de não emprego formal e consequentemente décimo terceiro, vai impactar diretamente nos seus gastos de natal e réveillon.
“Não posso contar com a previsão exata de quanto terei livre para estes gastos. Vou focar no pagamento das despesas de inicio do ano, tais como IPTU, IPVA, licenciamento, material escolar e matrículas. Mensurei estes gastos e fiz economias ao longo dos recebimentos mensais, portanto estarei preparada”.