Líder da oposição na Casa questionou ausência de questões como inclusão social e de políticas públicas para combater a pobreza e o racismo
Líder da Oposição na Câmara de Salvador, a vereadora Marta Rodrigues, disse, nesta terça (2), que o discurso do prefeito eleito Bruno Reis, na abertura da 19ª legislatura da Casa, não condiz com a realidade de Salvador e com o que os movimentos sociais tem pautado cotidianamente.
“Continua com o mesmo viés autopromocional, anunciando obras e promessas, mas não toca com profundidade em como fechar as feridas abertas de Salvador, como a enorme desigualdade social, como o transporte público precário, o acesso fácil à saúde pública, o déficit de creches e vagas noturnas e o enorme desemprego. Sequer ouvimos ele falar na população em situação de rua, na juventude soteropolitana, na população negra e de mulheres especialmente, que são maioria na capital, ou seja, um discurso trabalhado no marketing e não na realidade soteropolitana”, diz.
A avaliação da vereadora é de que o prefeito fez vistas grossas para a as questões que envolvem inclusão social, afroempreendedorismo, desemprego e o fim do auxílio emergencial que agravou a situação de pobreza da população. “Falou muito em inovação e tecnologia, mas sem transversalizar com a população negra. É um discurso de quem não acompanha o amplo debate feito pelos movimentos sociais sobre a Salvador que queremos. Não falou sobre o Salvador por Todos e nem sobre uma renda municipal. A média de renda de pessoas que recebem auxílio do coronavírus caiu 40% em Salvador durante esse período”, pontuou.
No âmbito da educação, a líder da oposição disse que o prefeito cita a formação humana enquanto comprometimento fundamental na construção do sujeito, entretanto não endossa o comprometimento com a questão de gênero, de raça ou diversidade. Além disso, continua a petista, Bruno não faz menção a preocupação com políticas de valorização da comunidade escolar e dos profissionais de educação. . A vereadora ressalta ainda que questões importantes ficaram de fora, a exemplo da melhora da economia a partir da valorização e de políticas de incentivo a economia popular e solidária.
“Esperávamos um discurso de como enfrentar o racismo em Salvador, o machismo, o desemprego e a informalidade, que atingem 487 mil trabalhadores na capital e RMS. Salvador é uma cidade pobre, formada em sua maioria por mulheres negras que chefiam as famílias. Falar por alto de questões importantes é seguir a agenda de propaganda da prefeitura do seu antecessor”, disparou.
Para a vereadora, a própria LOA de 2021 mostra quais são as prioridades da gestão, que, conforme ela, não passa pelo combate ao racismo e ao machismo. “A pasta de Reparação tem R$ 5,8 milhões para o ano, só que a maioria vai para manutenção da secretaria, faltando verba suficiente para ações e políticas públicas de combate ao racismo, à LGBTFobia, ao machismo. Já a pasta de Diretoria Animal, tem mais, R$ 7,5 milhões”
Transporte – Segundo a petista, o prefeito citou obras inconclusas e atrasadas, além de ter tentado justificar o problema do transporte público em Salvador na pandemia. “O prefeito eleito falou em evitar a quebra de empresas concessionárias do sistema de transporte, como se elas fossem mais vítimas da pandemia do que a população que há anos sofre com o descaso no setor, mesmo com tantos favorecimentos”, diz Marta.
Outras questões foram apontadas por Marta, a exemplo da superficialidade no discurso com as pautas ambientais e a inclusão das periferias na pauta de inovação. “Ele fala de respeito ao meio ambiente numa narrativa que se contradiz com as intervenções urbanas na cidade tais quais os tamponamentos dos Rios e a construção do BRT. Passou muito tempo falando de startups e de inovação, cujo plano municipal foi aprovado na Casa com voto contrário da oposição em 2020, pois manteve uma estrutura pré-existente que privilegiava muitos poucos empreendedores e cidadãos e cidadãs, sem incluir polos de inovação ou centros digitais em bairros periféricos”, disse.
Projetos – A líder da oposição na CMS questiona, ainda, a participação popular nos projetos da prefeitura. “Os projetos que a prefeitura tem apresentado ao longo dos anos foi sem participação popular. O prefeito eleito vai ouvir a população?. Vai continuar com as pinturas de fachadas do Morar Melhor? Continuar se isentando da responsabilidade do ensino infantil, dando um pequeno valor para pais e mães pagarem a iniciativa privada com o Pé na Escola? Não existe assistência técnica gratuita para regularização fundiária na cidade, que cresce desordenadamente por uma necessidade devido ao déficit habitacional. Como essa questão será resolvida?”, questionou.