
Por Rodrigo Santos*
Não é novidade para nenhum desportista, que o rodízio no poderde dirigentes incompetentes e seus asseclas, levou o Vitória a uma sequência de péssimas gestões, fracassos em todos os campos, amadorismo, falta de transparência e humilhações históricas, em um verdadeiro filme de terror que parece não ter fim.
Para nós, rubro-negros de verdade, sócios e torcedores que precisamos – sim – do Vitória, para nos trazer alegria e orgulho, convivermos com a tragédia provocada pelos que, também, precisam do clube, só que para fazer política partidária, empreitadas em família, satisfazer seus enormes egos e “brincar de casinha”, com a influência conquistada às custas da nossa dor, só há o que lamentar.
Porém, o que parecia estar péssimo, em função do projeto eleito e sustentado por eles, juntos como Presidente afastadoPaulo Carneiro, que administrou ao lado de TODOS os que aí estão, agora atingiu o auge do absurdo. Na quinta-feira de carnaval, nós, os sócios do Vitória, fomos surpreendidos com um comunicado, acerca de um cronograma tratando de uma “reforma emergencial” do estatuto do clube. Uma aberração completa que, entre outras pérolas, pede análise e envio de “emendas” até a terça-feira de carnaval!
Como se já não bastassem os mais de cinco anos de humilhação. Se já não fossem suficientes: a queda para série C; a eliminação inédita na pré-copa do nordeste; a luta desesperada de um time muito ruim, com grande chance de estar fora do G4 no pífio “baianinho”, pelo quarto ano consecutivo (três com esta mesma indiGESTÃO); as comissões amadoras, na gestão direta de um clube “profissional”, partidarizado e transformado em “bico”; as seguidas “pixotadas” infantis, que nos fazem perder milhões de reais, em casos como o das vendas dos atletas Pedrinho e, recentemente, David; o risco institucional e desportivo sem precedentes, por rasgarem o estatuto, com manobras em sequência, visando a manutenção da “filhocracia e da república dos perus”, em que transformaram nosso Vitória.
No ano de 2019, uma decisão em Assembleia Geral Extraordinária (AGE) de se fazer, até setembro daquele ano, uma convocação para reformar o estatuto, de forma plural, democrática e com protagonismo dos sócios, foi flagrantemente descumprida, até hoje,tanto pela presidência do Conselho Deliberativo, quanto pela presidência do Conselho Diretor.
Esta comissão, já requentada, “mexida e remexida”, inclusive com saída e entrada de membros sem a devida transparência e rigor, teria a obrigação de trabalhar na reforma do estatuto integral do clube e descumpriu todos os prazos dos cronogramas, apresentados e reapresentados, pela mesma. Por que a “urgência” agora?!
Segundo o comunicado, enviado aos sócios:
“Os objetivos básicos desta reforma emergencial do estatuto, são de regular o processo de funcionamento do Clube, estabelecendo regras claras sobre como deverá ocorrer o procedimento sucessório nos órgãos da instituição, além de coibir práticas danosas ao regular funcionamento dos órgãos do clube, a exemplo da assinatura única nos documentos firmados pelo gestor, pedidos de licença de dirigentes sem justificativa plausível, ausências injustificadas de conselheiros às sessões do órgão, remuneração de gestores sem observância das condições financeiras do clube, percebendo-as, inclusive, de forma antecipada e preferencialmente aos funcionários da instituição, contratos vultosos firmados pelo Conselho Diretor, sem análise prévia pelo setor jurídico, dentre outros.” (...)
“Cabe, no entanto, destacar que a aprovação desta reforma emergencial, de forma alguma, suprime a necessidade de uma reforma geral do atual estatuto social, tanto que no texto a ser enviado para aprovação pela AGE, consta, em sede de disposição transitória, a convocação de nova AGE, em período não superior a 60 (sessenta dias), para apreciação de minuta para reforma integral do Estatuto.”
Vamos aos fatos, que desconstroem esta narrativa:
1 – Sobre remuneração dos mandatários, o próprio presidente interino não pode receber salário, por não dar dedicação exclusiva ao clube e para não caracterizar acumulação indevida, de função e remuneração. Por que este tema não pode esperar, 60 dias, então?
2 – É “emergencial”, a ponto de atropelar a folia de momo e trabalhar na quarta-feira de cinzas (contém ironia), esta comissão aprovar algo que impeça o presidente em exercício de assinar, sem assinatura de outrem, além dele? Estão desconfiando do presidente interino? Não é possível acordar que esta gestão interina assine junto com representantes dos poderes do clube, caso necessário, por este curto período de menos de dois meses? Qual a “emergência” em “travar” o atual presidente e por que não confiar nele?
3 – O vice-presidente já tirou todas as licenças “de saúde e com justificativa plausível”, suficientes, para manter tudo como está e nas mãos dos mesmos de sempre. O estrago já está feito e contou com um olhar benevolente de quem deveria coibir estas práticas e cuidar do clube! Nada mudará este estado de coisas em 60 dias, quando isto deveria ter sido cobrado meses atrás, sendo que já existem mecanismos pra isto. O que mudou? Que pressa é esta?
4 – Conselheiros faltosos, que não participam da vida do clube, bem como alguns que, mesmo presentes, estão em FALTA com o clube, por despreparo ou conivência, existem alguns, ressalvadas as honrosas exceções. Mas, para que uma reforma de estatuto visando disciplinar isto com “urgência”, uma vez que, sequer, haveria reunião prevista para os próximos dias, não fosse poresta invencionice que arranjaram agora?
Toda esta “cortina de fumaça”, parece ter o propósito claro, de:
* Alterar "com a bola rolando", de 5/6 para 3/6, o período de mandato de presidente e vice afastados, para impedir novas eleições, favorecendo mais um golpe na democracia e ferindo de morte o princípio da irretroatividade;
* Legitimar, de maneira retroativa, a presença do presidente interino até dezembro de 2022, via AGE. Uma "reforma emergencial", para atender exclusivamente a um interesse pontual, dando "legalidade" ao que já diziam ser "legal", gerando ainda mais risco institucional e esportivo para o clube, por mero capricho;
* Frear, somente após consumada a vergonha da farra de licenças "por motivos de saúde", que os mesmos aceitaram passivamente, "de agora em diante", jogando pra torcida;
* Impedir o debate livre e real, com artifícios como reunião virtual do Conselho Deliberativo – PERMITINDO VOTO POR TERCEIROS – e, principalmente, com dispersão da AGE, ao longo de um dia inteiro. Retira-se, assim, qualquer possibilidade de toda a assembleia, ouvir o contraditório e debater pontos de interesse do Vitória, através das diversas correntes de pensamento. AGE viva, se faz com PLENÁRIA!
Em momento relevante da história do futebol brasileiro, com temas como SAF, sustentabilidade, democracia e outros, pautando grandes debates e ações, os mesmos de sempre “brincam de casinha” com nossa paixão maior, dando um show de despreparo, desamor, nenhuma expertise e muita “esperteza”. Querem o voto do sócio, massem dar voz, nem vez, ao mesmo.
Estamos vigilantes, de pé e a ordem, para apoiar todo e qualquer sócio e/ou torcedor, em iniciativas administrativas, de comunicação, extrajudiciais ou, até mesmo, judiciais, visando frear este “ovo da serpente”, que pode matar, de uma vez, qualquer chance de democracia, transparência, profissionalismo e refundação, em nosso Vitória.
Vamos todos lutar, para ajudarmos na rejeição integral desta “reforma emergencial”:
* Exigindo relação nominal de votantes no conselho e seus respectivos votos, para sabermos como se posicionou cada um dos conselheiros a respeito deste engodo. Confiamos em cada conselheiro, para que nos representem, como sócios, não aos interesses e arbítrio de algum cardeal ou grupo corporativista;
* Lembrando que o SMV é pessoal e intransferível, então, o voto também tem que ser. O desrespeito a esta regra será contestado, se preciso, na justiça;
* Estando unidos para garantir plenária, debate, confronto de ideias e propostas, com votação simultânea de todos os sócios presentes, em linha com as diretrizes sanitárias, que já permitem até 3 mil pessoas em eventos, a partir de março, para impormos uma derrota pedagógica aos que se julgam donos do clube, com rejeição integral da proposta de “reforma emergencial”, em caso de uma eventual AGE, mesmo sendo esta, absolutamente,temerária.
Todo este esforço de várias correntes de pensamento e de rubro-negros independentes, com amor verdadeiro ao clube, devem culminar em materialidade para, se preciso for, uma judicialização que mostre a estes “gestores” de mentes empoeiradas, que o Vitória pertence a 3 milhões de torcedores, não a 3 ou 4 famílias.
Os mesmos que estão retardando, indefinidamente, a AGE para destituição do presidente afastado,me saem com esta agora.
Os que pouparam a ovelha, querem sacrificar o Leão! Mas, somos rubro-negros, não temos temor!
* Rodrigo Santos é Sócio SMV, há mais de dez anos; Doutor em Política e Gestão; Empresário, Consultor Internacional e Professor de MBAs em Gestão Esportiva, entre outras áreas.